"Carta aos Chicos Buarques..."

Recebi este e-mail e fiquei profundamente emocionada. Por um dia eu ter cantado:


"...Mas, sei que uma dor assim pungente,
não há de ser inutilmente, que sufoco!"

... resolvi postar a mensagem neste Blog.
É coisa para SP se preocupar.
É coisa de São Paulo e do Brasil.
Pergunto a você, leitor:
- Será que hoje podemos considerar que aquela dor foi assim tão inútil??

"Carta para o Chico Buarque
Por José Danon (*)

Chico, você foi, é e será sempre meu herói. Pelo que você foi, pelo que você é e pelo que creio que continuará sendo. Por isso mesmo, ao ver você declarar que vai votar na Dilma "por falta de opção", tomei a liberdade de lhe apresentar o que, na opinião do seu mais devoto e incondicional admirador, pode ser uma opção.

Eu também votei no Lula contra o Collor. Tanto pelo que representava Lula como pelo que representava o Collor. Eu também acreditava no Lula. E até aprendi várias coisas com ele, como citar ditos da mãe.

Minha mãe costumava lembrar a piada do bêbado que contava como tinha se machucado tanto. Cambaleante, ele explicava: "eu vi dois touros e duas árvores,os que eram e os que não eram.
Corri e subi na árvora que não era e aí veio o touro que era e me pegou".
Acho que nós votamos no Lula que não era e aí veio o Lula que era e nos pegou.

Chico, meu mestre, acho que nós, na nossa idade, fizemos a nossa parte. Se a fizemos bem feita ou mal feita, já é uma outra história. Quando a fizemos, acreditávamos que era a correta. Mas, desconfio que nossa geração não foi tão bem sucedida, afinal. Menos em função dos valores que temos defendido e mais em razão dos resultados que temos obtido. Creio que hoje nossa principal função será a de disseminar a mensagem adequada aos jovens que vão gerenciar o mundo a partir de agora. Eles que façam mais e melhor do que fizemos, principalmente porque o que deixamos para eles não foi grande coisa. Deixamos um governo que tem o cinismo de olimpicamente perdoar os "companheiros que erraram" quando a corrupção é descoberta.

Desculpe, senhor, acho que não entendi. Como é mesmo? Erraram? Ora, Chico. O erro é uma falha acidental, involuntária, uma tentativa frustrada ou malsucedida de acertar.

Podemos dizer que errou o Parreira na estratégia de jogo, que erramos nós ao votarmos no Lula, mas não que tenham errado os zésdirceus, os marcosvalérios, os genoínos, dudas, gushikens, waldomiros, delúbios, paloccis, okamottos, adalbertos das cuecas, lulinhas, beneditasdasilva, burattis, professoresluizinhos, silvinhos, joãopaulocunhas, berzoinis, hamiltonslacerdas, lorenzettis, bargas, expeditosvelosos, vendoins, freuds e mais uma centena de exemplares dessa espécie tão abundante, desafortunadamente tão preservada do risco da extinção por seu tratador.
Esses não erraram. Cometeram crimes.
Não são desatentos ou equivocados. São criminosos.
Não merecem carinho e consolo, merecem cadeia.

Obviamente, não perguntarei se você se lembra da ditadura militar. Mas, perguntarei se você não tem uma sensação de déjà vu nos rompantes de nosso presidente, na prepotência dos companheiros, na irritação com a imprensa quando a notícia não é a favor.

Não é exagero, pergunte ao Larry Rother do New York Times, que, a propósito não havia publicado nenhuma mentira. Nem mesmo o Bush, com sua peculiar e texana soberba, tem ousado ameaçar jornalistas por publicarem o que quer que seja. Pergunte ao Michael Moore.
E olhe que, no caso do Bush, fazem mais que simples e despretensiosas alusões aos seus hábitos ou preferências alcoólicas no happy hour do expediente.

Mas, devo concordar plenamente com o Lula ao menos numa questão em especial: quando acusa a elite de ameaçá-lo, ele tem razão. Explica Aurélio Buarque de Hollanda, seu tio, que elite, do francês élite, significa "o que há de melhor em uma sociedade, minoria prestigiada, constituída pelos indivíduos mais aptos". Poxa! Na mosca.

Ele sabe que seus inimigos são as pessoas do povo mais informadas, com capacidade de análise, com condições de avaliar a eficiência e honestidade de suas ações. E não seria a primeira vez que essa mesma elite faz esse serviço. Essa elite lutou pela independência do Brasil, pela República, pelo fim da ditadura, pelas diretas-já, pela defenestração do Collor e até mesmo para tirar o Lula das grades da ditadura em 1980, onde passou 31 dias.

Mas, ela é a inimiga de hoje. E eu acho que é justamente aí que nós entramos. Nós, que neste país tivemos o privilégio de aprender a ler, de comer diariamente, de ter pais dispostos a se sacrificar para que pudésses ser capazes de pensar com independência, como é próprio das elites - o que, a propósito, não considero uma ofensa -, não deveríamos deixar como herança para os mais jovens presentes de grego como Lula, Chávez, Evo Morales, Fidel - herói do Lula, que fuzila os insatisfeitos que tentam desesperadamente escapar de sua democracia.

Nossa herança deveria ser a experiência que acumulamos como justo castigo por admitirmos passivamente ser governados por Lula, pelo Chávez, pelo Evo e pelo Fidel, juntamente com a sabedoria de poder fazer dessa experiência um antídoto para esse globalizado veneno.

Nossa melhor herança será o sinal que deixaremos para quem vem depois, um claro sinal de que permanentemente apoiaremos a ética e a honestidade e repudiaremos o contrário disso. Da mesma forma que elegemos o bom, destronamos o ruim, mesmo que o bom e o ruim sejam representados pela mesma pessoa em tempos distintos.

Assim como o maior mal que a inflação causa é o da supressão da referência dos parâmetros do valor material das coisas, o maior mal que a impunidade causa é o da perda de referência dos parâmetros de justiça social. Aceitar pacificamente a livre ação do desonesto é ser cumplice do bandido, condenando a vítima a pagar pelo malfeito.

Temos opção. A opção de destronar o ruim.

Se o oposto será o bom, veremos depois.

Se o oposto tampouco servir, também o destronaremos.

A nossa tolerância zero contra a sacanagem evitará que as passagens importantes de nossa História, nesse sanatório geral, terminem por desbotarem na memória de nossas novas gerações.

Aí, sim, Chico, acho que cada paralelepípedo da velha cidade, no dia 31 de outubro, vai se arrepiar.

Seu admirador número 1,

Zé Danon"
(economista e consultor de empresas)


Comentários

FlamingLips disse…
A maior graça da arte é a catarse.
É o que sinto mas não sei passar adiante.

Ainda bem que tem que sabe, tanto escrever quanto passar adiante.

Agradeço à Dilze e ao Danon.

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