A dona da calçada

A UOL e Folha de S.Paulo publicaram interessante matéria sobre a mulher que desenhou as calçadas de São Paulo e que alega não ter recebido nenhum centavo por isso.


Trata-se de Mirthes Bernardes, 80 anos, desenhista, que em 1965 ganhou o concurso municipal das calçadas da cidade, com o famoso desenho, brancos e negros intercalados, dos mapas do estado de São Paulo 

Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
Mirthes afirma que o concurso trazia "coisas bem mais bonitas", mas os juízes não acharam e preferiram ficar com o desenho que, de certa forma, lembra as ondas traçadas nas calçadas do Rio de Janeiro.

Desde então, seu desenho ganhou notoriedade e é marca registrada da cidade, em propagandas, em panfletos de grandes bancos, em chinelos, sem que a dona da patente seja remunerada. Essas empresas estão ganhando dinheiro com o produto, mas não a remuneram pela autoria do desenho.

Como diz a artista: "faz 50 anos que estou lutando. Não consegui nada, nem um alô. Eu acho que eu merecia". E afirma que continuará lutando na Justiça contra empresas, visto que o que foi acertado era uma porcentagem sobre cada calçada implantada, exceto quando se tratasse de canteiro central.

Ao mesmo tempo, mostra-se desanimada com a falta de cuidado com os ladrilhos e teme que o "piso paulista" desapareça. É um descuido total. "Tira-se o ladrilho e, ao invés de restaurar, vão tapando os buracos, sem nenhum cuidado", diz.

Quer um exemplo?  A matéria afirma que em 2012, uma das primeiras avenidas paulistas a receber o "piso" - a Av. Amaral Gurgel - teve todas as suas peças arrancadas e trocadas por concreto. Segundo a prefeitura, a obra foi necessária para melhorar a drenagem e aumentar a durabilidade e garante que o "piso" em prédios públicos são "sempre restaurados".

Como não são tombadas, calçadas por toda a cidade estão desaparecendo, já que os comerciantes e ou moradores tem a opção de restaurá-las ou substituí-las por outros materiais. É o caso da Consolação e da Av. São João.
Calçada portuguesa

Essa matéria me lembra de situação recente em Portugal, onde foi realizado um plebiscito para decidir sobre a substituição dos ladrilhos das calçadas na cidade de Lisboa, principalmente nas regiões onde as ruas são íngremes e o número de acidentes com pedestres, motivados por quedas, é muito alto.


A discussão em Portugal foi permeada por dois grandes argumentos: preservação histórica e cultural das tradições portuguesas e razões de saúde pública. E aqui em São Paulo? Nenhuma coisa e nem outra, infelizmente.

Está mais do que na hora de São Paulo preservar com mais carinho e cuidado histórico os símbolos da cidade. Concorda?

Veja a matéria completa e entrevista com a desenhista: Folha/UOL

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Penha de França: o bairro mais antigo

Cidade Compacta - o que é isso?

SP 2040, Visão e Plano de Longo Prazo para Sampa